sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Náusea da Flor no meio do Caminho


Ela navega em ondas de letras.
Onde as palavras ventam.
Ela tenta segurar-se à nau frágil.
"Devo seguir até o enjôo?"
No movimento do vai e vem foi.
Naufrágio inevitável.
Ela perde a nau, perde o horizonte.
Onde ficou o porto?
No fundo do oceano de letras.
As borboletas se agitam no estômago.
Ela estende as mãos, encontra o espelho.
O espelho é a pedra de sal das palavras.
"No meio do caminho tinha uma pedra".
O olhar refletido apressa o vômito.
No fundo do mar de letras encontra o âmago.
Ela descobre no avesso a força.
"É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio".

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Flor Azul


no rosto a estampa:
o sorriso amarelo
que no peito estanca
o vermelho pulsante
que dos olhos precipita
em forma de lágrima
- azul - como a alma.

domingo, 6 de setembro de 2009

Faz de conta


...precisava no meio do faz de conta falar a verdade de pedra opaca para que contrastasse com o faz de conta verde-cintilante, faz de conta que amava e era amada, faz de conta que não precisava morrer de saudade...
...faz de conta que ela não estava chorando por dentro
- pois agora mansamente, embora de olhos secos, o coração estava molhado; ela saíra agora da voracidade de viver...

(Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres - Clarice Lispector)