sexta-feira, 23 de maio de 2008

A casa assombrada


Lembro-me da casa abandonada na velha estrada à beira do rio. Seu aspecto sombrio suscita um misto de curiosidade e medo em quem passa por lá.

Em tempos felizes foi o cenário do amor de duas almas: o senhor Domício e sua esposa. Eles cuidavam da casa, do quintal, dos animais, das plantas; enfeitavam aquele chão com flores e árvores frutíferas, que encantavam e alimentavam os banhistas que se divertiam na praia do rio, bem em frente à casa.

Um dia, o velho Domício se viu sem sua amada companheira e, sozinho, continuou a cuidar da casa. Seu passatempo era contar os "causos" aos passageiros da grande estrada que leva à cachoeirinha, o ponto turístico da região. Os conhecidos paravam para ouvir o Domício, tomar um café da roça e pegar umas frutas no quintal. Quando a visita ia embora, o velho ficava outra vez só. Seus únicos vizinhos eram as árvores, a estrada e o rio. O rio, aliás, era do Domício; os moradores da cidade, quando queriam se refrescar, diziam "vamos ao rio do Domício? Lá tem areia, pedras e sombras para fazermos piquenique". E assim, no verão o velho Domício sempre tinha companhia. Todas as vezes que eu ia àquela cidade, não deixava de ir ao "rio do Domício". Era pura diversão! Mas o tempo passou e deixou para trás os momentos felizes vividos naquele lugar.

Hoje, o rio é apenas uma porçãozinha de água que só molha as canelas. A estrada e as árvores não recebem mais os cuidados do senhor Domício; os seus "causos" dormem no silêncio. A tristeza tomou conta do lugar, só se ouve o canto do vento tocando as folhas, acompanhado pela orquestra dos pássaros. A casa está abandonada. O velho Domício virou um mito.

Diz a lenda que em noites de lua cheia o ancião passa pela estrada montado em seu cavalo branco, como Napoleão. Há quem afirme ter visto o velho em frente à casa, outros juram que viram e ouviram o trote do cavalo.

Assim, a velha casa abandonada à beira da estrada vai tomando cada vez mais espaço no imaginário do povo. Tomados pela fantasia, todos têm medo de passar perto da "casa mal assombrada" a qualquer hora do dia ou da noite.

No entanto, a casa não é mal assombrada. É bem, muito bem assombrada, pois a espessa copa das árvores que a cercam a impede de ver a luz do sol.

sábado, 10 de maio de 2008

Vou versejar


No início era o verbo

Hoje é o verso.

Vou versejar

Verter a verve versátil

Transpirar

Transmitir o sentido retrátil.

Verbo volátil

Voa no ar

Verso alado

Enleve transitar.

Verbo transitivo

Verso transe ativo.

Versos ébrios

Caem tontos

No blog branco.

Pingos de versos

Perigos diversos.

quinta-feira, 1 de maio de 2008

A DROGA DO AMOR


Amor, fina dor

Em dor fina

Endorfina

Amor finda

A dor fica

A morfina.