sexta-feira, 27 de junho de 2008

Oba!!! O inverno chegou...


Fala, ipê

Neste ofício de rabiscar sobre a natureza, me reporto ao verão da minha vida, quando conversava com minha árvore de estimação, um velho e frondoso ipê amarelo que enfeitava o quintal da minha casa. O florescer da minha árvore-amiga era um deleite para os meus olhos. Suas flores, com o seu doce amarelar, destacavam-na em meio ao verde comum das outras árvores e quando elas caíam formavam um tapete dourado no chão. Então, os galhos nus logo ganhavam outra coloração, o verdinho das novas folhas que brotavam. Assim, acabava o encanto amarelo, mas a árvore continuava lá, plantada no chão, imponente e renovada. E cantando no vento, parecia me dizer: "renasci e inicio agora uma nova fase, não fique triste, ano que vem te darei outras flores". E ela não falhava. No inverno seguinte o encanto dourado voltava, alegrando os dias frios. Isto mesmo! No inverno! Era exatamente o florescer invernal da minha amiga que me fazia admirá-la, pois os ipês são árvores transgressoras, não respeitam a regra das estações do ano que dita a primavera como estação das flores e o outono, dos frutos. Os ipês, idiossincrasiamente, florescem em pleno inverno e dão frutinhos na primavera.

Os homens não são como os ipês, não transgridem as estações da vida, passam cronologicamente pela primavera da infância, pelo verão da juventude, pelo outono da maturidade e pelo inverno da velhice. E passam...

A nossa vantagem sobre as árvores é que, passamos por maiores transformações na vida, uma verdadeira metamorfose da primavera ao inverno, e, como diz o poeta Arnaldo Antunes, não ficamos presos nos passos, ocupamos mais espaços. Por outro lado, a vantagem das nossas amigas árvores é que, depois do inverno iniciam uma nova primavera, e um novo verão, e um novo outono, e um novo inverno...

As árvores passam pelas quatro estações todo ano, renovando-se sempre, mas, para nós humanos, as estações da vida só acontecem uma vez. Por isso, precisamos viver bem cada uma delas. Quando penso que poderia ter veroneado melhor, lembro-me do meu amigo ipê que, no verão é verde comum, e, quando chega o inverno, se mostra mais vivo, enquanto as suas colegas esmaecem.

Devemos aprender esta lição dos ipês: não é por acaso que eles florescem na época mais fria e escura do ano. As suas flores esbanjam vivacidade nos dias cinzentos para nos mostrar que o inverno não é tão triste quanto pensamos. Nenhuma estação do ano é melhor ou pior que a outra, cada uma traz vantagens e desvantagens, só precisamos saber enxergá-las. Da mesma forma são as estações da vida, momentos únicos em nossa breve existência. Cabe a nós tirar da natureza a sabedoria necessária para viver com dignidade cada etapa da vida, sem levar tão a sério a cronologia, pois o nosso inverno não precisa ser demasiadamente ruim e o nosso verão, não necessariamente deve ser a melhor fase da vida. Isso eu aprendi com o meu ipê que, florindo no seu inverno, enfeitava o meu verão.


sábado, 14 de junho de 2008

Encontros


O encontro marcado

O beijo na praia

Água e areia

Suave vai-e-vem

Absorvido o beijo

Ela se vai

Para voltar depois

Outro encontro

Outro parceiro

Água e rochedo

Frenético vai-e-vem

Estampido beijo

Ela se vai

Para voltar depois...

quarta-feira, 4 de junho de 2008

O lixo do luxo


lixo e luxo

andam juntos

na mesma senda

acenda a lâmpada

ilumine a ilusão

ilustre lixo

lúgubre luxo

a pólis policia

atos cênicos de loucos sãos

pólis polícia política

medida

metro

metrô de superfície

submerso na super súcia

super sub

super lixo sub luxo

supra-sumo da sujeira

que se luxem na todos lixeira!