domingo, 23 de novembro de 2008

Uma pausa na rotina


Lá fora, a chuva insiste.
Aqui dentro, somos todos cúmplices.
Janelas cerradas, vidros embaçados.
Lá fora, a chuva teima.
Encharca a terra, escorre no asfalto.
Aqui dentro, partilhamos o mesmo ar.
Lá fora, o tempo passa.
Aqui dentro, tudo pára.
Na ansiosa espera, vemos o que jamais vimos antes:
Mato e rio à margem do mesmo caminho.
Lá fora, as folhas dançam ao toque dos pingos.
Aqui dentro, telefones celulares são os melhores amigos.
Lá fora, os pássaros cantam a alegria da liberdade.
Aqui dentro, desejamos ter asas.
Lá fora, ambulâncias tentam correr.
Aqui dentro, a pressa é inútil.
Lá fora, a chuva persistente parece feliz.
Aqui dentro, olhamos o vidro mais embaçado, respiramos menos oxigênio.
Lá fora, a chuva, alheia ao nosso sofrimento, continua.
Pinga, molha, escorre os nossos compromissos.

domingo, 16 de novembro de 2008

Hoje tem espetáculo?


O circo está armado
Sob a lona pícaros
No picadeiro do Olimpo
Zeus comanda o espetáculo
Circe circense
Transforma o coelho em cartola
Afrodite, acredite, desiste
O voto de Minerva decide
A beleza é Psiqué(lógica)
Eros já não é
Hera já era
Cronos não resiste
Ao tempo que insiste
No bar Baco bebe fiado
Bêbedo se mistura
No cabelo da Medusa
Da ressaca ressurge
Como Fênix das cinzas.

domingo, 9 de novembro de 2008

Aventuras de arrepiar




Eram cinco meninas ávidas por aventuras: Angel, Debby, Gal, Zazá e Cacau. Subriam as longas escadas da velha igreja. Foram recebidas pelas palmeiras imperiais, que, com suas folhas inquietas, davam boas-vindas às visitantes. As amigas não imaginavam o que as esperava dentro daquele prédio histórico. Ao pisar aquele chão, pisavam o passado. Subiram as barulhentas escadas de madeira. No sótão, Zazá se encantou com o enorme mastro do santo negro, guardado no canto à espera do dia da algazarra. Zazá não resistiu à tentação de tocar o mastro. Depois, se juntou às suas amigas, que estavam indo em direção a um quarto escuro. O ranger das madeiras velhas do assoalho assustava as meninas. Parecia filme de terror. À essa altura a imaginação fluía.


Entraram no quarto escuro. Nas paredes, os pedestais com as imagens lembravam sarcófagos. Um misto de medo e curiosidade encantava Cacau, a mais fantasiosa das cinco amigas. Ela imaginava que a qualquer momento as múmias poderiam sair, enlaçá-la e levá-la para o Egito. E assim, como um passe de mágica, Cacau desvendou os mistérios das pirâmides, conheceu Tutancâmon e, transformando-se em Cleópatra, viveu dois amores, venceu e perdeu guerras, sentiu a picada da cobra... Ah! Acordou com o chamado das amigas para irem embora.


Da penumbra para o sol escaldante. Os olhos ardiam. Foi difícil descer as escadas, deixar para trás as palmeiras, o quarto escuro, o Egito. A vontade de voltar era grande, mas, sozinha, Cacau teve medo. As amigas preferiram outras aventuras.


Foram, então, ao encontro marcado com Einstein. Chegaram ao Ceará em 1911. Lá, encontraram o cientista maluco em uma de suas experiências. Era noite ao meio-dia. O relógio biológico dos pássaros não entendeu nada. Os bichinhos dormiram. Como tudo estava silenciosamente sem graça, as aventureiras decidiram sair de lá, antes que as portas do tempo se fechassem e as deixassem presas no passado.


De volta ao presente maravilhosamente barulhento, com os agudos gritinhos de crianças se divertindo no parque, as cinco meninas procuraram outras aventuras. Gal era a mais animada. Experimentou de tudo. Girou, escorregou, abaixou e elevou bolinhas, transformou-se em pêndulo. Cacau se deixou contaminar pela animação de Gal e, junto com ela, experimentou coisas novas. Arrepiaram-se, deixaram suas marcas na parede escura, fotografaram sombras. Enquanto isso, Angel, Debby e Zazá entediavam-se, já estavam cansadas.


Cacau e Gal queriam mais aventuras, mas era hora de voltar para casa. À noite, Tutancâmon, Cleópatra, Marco Antônio, Júlio César e Einstein visitaram os sonhos de Cacau.