terça-feira, 20 de janeiro de 2009

A cena


Quatro horas da tarde. Laura estava passando rapidamente pela orla. Ela gosta de observar a praia, as pessoas no calçadão, jovens e idosos. Na areia quente ainda há gente à procura do último bronzeado. No horário de verão o sol ainda é abundante nesta hora, e perigoso. De repente, Laura avista uma senhora tirando a canga e deixando lentamente à mostra o seu corpo, digamos, grotesco. Seios e bunda fartos - fartos de banha e celulite - pensou Laura.
Dificilmente alguém olharia tanto aquele corpo, mas Laura olhou, ficou alguns segundos admirando, não o corpo, e sim a coragem da mulher, que não parecia preocupada com o que os outros iriam pensar ou dizer. Naquele momento Laura sentiu uma profunda vontade de pisar na areia e mergulhar no mar, mas as convenções a impediram. Não saiu de casa para ir à praia, tinha outras coisas para fazer. Assim, diante do desejo não satisfeito, Laura começou a se sentir estranha, a sua própria inimiga. Desta forma, percebeu que vive dividida entre o que quer e que deve fazer. Muitas vezes, o que ela quer fazer, não deve, e acaba se conformando em não fazer, por outro lado, o que não quer é o sempre acaba fazendo. Daí veio a raiva, ela teve repulsa de si, por não ter coragem de burlar as convenções.
A gorda tem coragem de mostrar suas banhas e celulites, enquanto Laura, com menos gordurinhas mau localizadas e bem menos celulite não tem coragem sequer de falar a vardade aos amigos quando recusa um convite para ir à praia, dizendo que não gosta de praia.
Aquela mulher na praia, velha e gorda, sem vergonha das suas banhas e celulites, abriu os olhos de Laura. Diante daquela cena, Laura não teve vergonha do seu corpo, mas sentiu uma vergonha muito pior...

5 comentários:

Paula Barros disse...

A história de Laura cabe em muitas Lauras. Muitas pessoas são assim. Algumas com essas observações e vivências vão mudando ao longo da vida, outras continuam assim.

Dizendo sim quando querem dizer não. Ou dizendo não quando querem dizer sim.

O ser humano desde ao nascer é moldado com idéias pré-estabelecidas, conceitos de certo e errado, de feio e bonito.

As Lauras e os Lauros podem mudar, é só querer.

Um belo conto, e com lições de vida.

parabéns.

bjs

Josely Bittencourt disse...

tou com a Paula!

humm... a "fragilidade e incerteza" Laura ñ tem né, e nem vive de conceitos. Taí Carlinha, vamos fazer cena! rs


beijocas

Carla disse...

Sim, Paula, todos nós temos um pouco de Laura, infelizmente.

É mesmo, Jo, Laura ñ vive d conceitos, mas d preconceitos.

Bjim, meninas.

Jacinta Dantas disse...

Nossa, menina! bom ler esse conto logo agora pela manhã. Estou voltando, prucurando desnudar as Lauras que me rondam.

Pois é, moça, o desafio, lá no florescer, é prá você.
Deixei para cumprir a última etapa hoje cedo. A de avisar os desafiados.
Beijo

GAZUL disse...

E ver gonha para crer na sanha!