Lembro-me da casa abandonada na velha estrada à beira do rio. Seu aspecto sombrio suscita um misto de curiosidade e medo em quem passa por lá.
Em tempos felizes foi o cenário do amor de duas almas: o senhor Domício e sua esposa. Eles cuidavam da casa, do quintal, dos animais, das plantas; enfeitavam aquele chão com flores e árvores frutíferas, que encantavam e alimentavam os banhistas que se divertiam na praia do rio, bem em frente à casa.
Um dia, o velho Domício se viu sem sua amada companheira e, sozinho, continuou a cuidar da casa. Seu passatempo era contar os "causos" aos passageiros da grande estrada que leva à cachoeirinha, o ponto turístico da região. Os conhecidos paravam para ouvir o Domício, tomar um café da roça e pegar umas frutas no quintal. Quando a visita ia embora, o velho ficava outra vez só. Seus únicos vizinhos eram as árvores, a estrada e o rio. O rio, aliás, era do Domício; os moradores da cidade, quando queriam se refrescar, diziam "vamos ao rio do Domício? Lá tem areia, pedras e sombras para fazermos piquenique". E assim, no verão o velho Domício sempre tinha companhia. Todas as vezes que eu ia àquela cidade, não deixava de ir ao "rio do Domício". Era pura diversão! Mas o tempo passou e deixou para trás os momentos felizes vividos naquele lugar.
Hoje, o rio é apenas uma porçãozinha de água que só molha as canelas. A estrada e as árvores não recebem mais os cuidados do senhor Domício; os seus "causos" dormem no silêncio. A tristeza tomou conta do lugar, só se ouve o canto do vento tocando as folhas, acompanhado pela orquestra dos pássaros. A casa está abandonada. O velho Domício virou um mito.
Diz a lenda que em noites de lua cheia o ancião passa pela estrada montado em seu cavalo branco, como Napoleão. Há quem afirme ter visto o velho em frente à casa, outros juram que viram e ouviram o trote do cavalo.
Assim, a velha casa abandonada à beira da estrada vai tomando cada vez mais espaço no imaginário do povo. Tomados pela fantasia, todos têm medo de passar perto da "casa mal assombrada" a qualquer hora do dia ou da noite.
No entanto, a casa não é mal assombrada. É bem, muito bem assombrada, pois a espessa copa das árvores que a cercam a impede de ver a luz do sol.
3 comentários:
Ei moça flor, muito legal a finalização, muita sombra: assombrada.
E tb me trouxe lembranças de minha cidade, lá há um bairro q antes de ser bairro era uma fazenda de um velho q ñ tinha parente algum, o nome dele era Decamon, daí o prefeito quis comprar as terras dele para fazer um conjunto habitacional, mas o velho ñ quis vender de jeito nenhum. O prefeito deu logo jeito de sumir com o velho, dizem q mandou matar...Só sei q o bairro é assombrado e toda quaresma o velho passa a cavalo na rua principal gritando Decamon, Decamom, Decamon. Pensando no tanto q lá é arborizado, realmente muita sombra...com certeza deve ser bem assombrado! rsrsr
beijos
Decamon!Parece nome de deus grego ou faraó egípcio.Bem apropriado p/ um fantasma. rsrs.As cidades do interior sempre têm dessas histórias. Essa q eu contei é verídica, bom, se hoje o velho anda mesmo a cavalo ñ sei,rsrsr, mas sei q ele viveu e a casa ainda está lá, caindo aos pedaços.
Bjim
Gosto mesmo é desse clima, travestido em lenda, que envolve os casarões e o seu texto. Penso que lendo-te, passeio pelos cômodos dessa velha casa bem assombrada.
Beijos
Postar um comentário